segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

The (one) night stand(s)


E as paixões mais duradouras são aquelas de uma noite só. Era o que ele respirava, pensava e sentia, não sabia direito a razão, só o ritmo harmônico das batidas de um musculo involuntário que carregava no peito. Mais uma vez sentiu o cheiro das árvores que lhe conheciam, sentiu o perfume inerente ao ar de onde esteve por tempo indeterminado, ao menos na contagem que levava pra si, lembrava então de música que dizia que tememos envelhecer, jogamos com os números para dizer que a vida apenas começou. Fitava novamente o rio com um olhar saudosista, quiçá melancólico, com uma levada tão blasé que seus próprios sentidos repugnavam com asco tal intenção. Por que havia de ser diferente? Pois era sempre diferente, era sempre paixão, era a união de corpos e tudo mais que possa soar como clichê insistente em seus versos, incrédulos que algo bom pudesse acontecer consigo, temente aos amigos, aos amores, ao verão. Ah o verão, que para nos significa o fogo, calor, significa a ardência gostosa, rubor saudável e infalível, capaz de trazer alegria aos rostos mais tristes. Poderia esta estação lembrar-lhe o frio? É claro que sim, é óbvio que sim. A chuva foi chegando devagar, devastando a sombra do repouso talvez merecido, água que seca sensações, água que vem pra apagar tal fogo inexistente, criado em seu intimo, ínfimo, incapaz.
Afinal o que era esse calor? O que era a capacidade que julgava não ter? Realmente não sabia, e temia nunca descobrir. Confundia-se em ambos os conceitos, vidrado em falácias e pequenas emoções. Mas às vezes permitia-se sentir, respirar e pensar, guiado por paixões duradouras, aquelas de uma noite só. Mesmo sabendo que a duração poderia ser infinitamente maior do que o anoitecer, apostaria todas as fichas em uma delas, sem esperar retorno ou prêmio qualquer, apenas para sentir-se vivo, mais vivo do que nunca, tomado por um ardor vadio, um regozijar tardio, impedido pelas notas que insistiam em não sair de sua garganta.
O que poderia de fato, diferenciar uma dessas sensações? De novo, nada sabia, só sabia que tinha sido diferente, talvez de tudo que provou, pois mesmo depois de ter revirado seu amontoado de paixões, não encontrou semelhança alguma. Achava que podia ser culpa do ambiente, do misto do que sentia pelo lugar, pelos dias que aceleravam sem perguntar gentilmente a seu pobre passageiro se gostaria de avançar, pelo clima singular dos regalos apenas experimentados por lá. Só sabia que tinha sido, que foi, e que continuava sendo diferente, até que as maléficas rédeas do tempo se soltem e deixem o registro daquela paixão amontoar-se junto às outras. Mas ele, não queria e não quer deixar e talvez por isso possa tentar insistir em dessa vez manter chama acessa, para que em proximo verão, e não se fala da estação, renasça não como repetição, mas em uma ou mais longas noites, de uma nova e duradoura paixão.