quarta-feira, 23 de maio de 2012

Se não basta é porque ainda não bastou.


Aproximação e afastamento caminhando lado a lado, face a face, tête-à-tête. Como? Fácil de entender pra quem saboreia o doce que água a boca, impossível pra observador qualquer.
Quanto mais as emoções volviam seus cernes em opostas direções, mais a cama chamava ardendo como única solução. Era diferencial qualitativo das adorações hedonistas que viviam em toda existência que tinham ou insistiam ter, palpite carrasco da cabeça que se ilude racional. Arrastavam-se aos montes de indiferenças, falsas indiferenças regadas a falácias convincentes de quem não se importa em se importar, queima de ciúmes com sorriso estampado e ar blasé.  A pele crescia em sensações ao inverso do quadrado das trivialidades das relações estáveis (que reduziam), arrepiava cada vez mais os poros ansiosos de amantes ensandecidos em lençóis frenéticos, judiava dos valores já esquecidos, mas presentes, em cabeças que se iludiam racionais. Era loucura infiel (se fidelidade existe), das boas, da melhor que tinha e que haveria de provar, justamente pela loucura posta à prova e equilibrada na libido exagerada, no sexo sem nexo algum, regalo de sensações. Piavam em nota só doçuras e inverdades que nem chegavam à meação dos louvores e cânticos abafados dos entrelaces viris e saborosos, quais gula nenhuma aproximaria em prazer. Tête-à-tête, no seio desnudo achava abrigo que findava com a luz do sol e toda sua sociabilidade que não entendia, nem precisava entender que quanto mais inviável era, mais fogoso tornava, mais insuportável parecia, mais caloroso chegava, findava antes mesmo da lenha queimar, gozava de liberdade, libertinagem e tudo mais que só se tem a dois, na cama, não na fama.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

The (one) night stand(s)


E as paixões mais duradouras são aquelas de uma noite só. Era o que ele respirava, pensava e sentia, não sabia direito a razão, só o ritmo harmônico das batidas de um musculo involuntário que carregava no peito. Mais uma vez sentiu o cheiro das árvores que lhe conheciam, sentiu o perfume inerente ao ar de onde esteve por tempo indeterminado, ao menos na contagem que levava pra si, lembrava então de música que dizia que tememos envelhecer, jogamos com os números para dizer que a vida apenas começou. Fitava novamente o rio com um olhar saudosista, quiçá melancólico, com uma levada tão blasé que seus próprios sentidos repugnavam com asco tal intenção. Por que havia de ser diferente? Pois era sempre diferente, era sempre paixão, era a união de corpos e tudo mais que possa soar como clichê insistente em seus versos, incrédulos que algo bom pudesse acontecer consigo, temente aos amigos, aos amores, ao verão. Ah o verão, que para nos significa o fogo, calor, significa a ardência gostosa, rubor saudável e infalível, capaz de trazer alegria aos rostos mais tristes. Poderia esta estação lembrar-lhe o frio? É claro que sim, é óbvio que sim. A chuva foi chegando devagar, devastando a sombra do repouso talvez merecido, água que seca sensações, água que vem pra apagar tal fogo inexistente, criado em seu intimo, ínfimo, incapaz.
Afinal o que era esse calor? O que era a capacidade que julgava não ter? Realmente não sabia, e temia nunca descobrir. Confundia-se em ambos os conceitos, vidrado em falácias e pequenas emoções. Mas às vezes permitia-se sentir, respirar e pensar, guiado por paixões duradouras, aquelas de uma noite só. Mesmo sabendo que a duração poderia ser infinitamente maior do que o anoitecer, apostaria todas as fichas em uma delas, sem esperar retorno ou prêmio qualquer, apenas para sentir-se vivo, mais vivo do que nunca, tomado por um ardor vadio, um regozijar tardio, impedido pelas notas que insistiam em não sair de sua garganta.
O que poderia de fato, diferenciar uma dessas sensações? De novo, nada sabia, só sabia que tinha sido diferente, talvez de tudo que provou, pois mesmo depois de ter revirado seu amontoado de paixões, não encontrou semelhança alguma. Achava que podia ser culpa do ambiente, do misto do que sentia pelo lugar, pelos dias que aceleravam sem perguntar gentilmente a seu pobre passageiro se gostaria de avançar, pelo clima singular dos regalos apenas experimentados por lá. Só sabia que tinha sido, que foi, e que continuava sendo diferente, até que as maléficas rédeas do tempo se soltem e deixem o registro daquela paixão amontoar-se junto às outras. Mas ele, não queria e não quer deixar e talvez por isso possa tentar insistir em dessa vez manter chama acessa, para que em proximo verão, e não se fala da estação, renasça não como repetição, mas em uma ou mais longas noites, de uma nova e duradoura paixão.

terça-feira, 11 de maio de 2010

(Not so)Holy Day,


Que legal são os feriados! A família toda reunida, todo mundo feliz, contente.
Churrasco rolando solto, algumas dúzias de cerveja, todos os parentes que você não vê a anos (muitas vezes por opção própria) e uma bela dose caprichada de crianças bem chatas (vide: primos).
A maravilha desse sublime dia de extrema utilidade começa logo cedo, quando se iniciam os preparativos para o grande almoço, seja ele carne com batatas, carne assada, ou carne no churrasco, enfim carne (salvo se você for de uma família de vegetarianos). São geralmente doze pessoas pra fazer o trabalho de uma em um dia regular, mas parece que só pelo fato de ser feriado precisa multiplicar a complexidade de mão-de-obra para coisas simples, tal como trocar uma lâmpada, dar comida para o passarinho, cachorro, gato ou qualquer outro animal. Tudo isso vira uma grande tarefa coletiva. Em algum ponto do dia, alguma criança vai vomitar, e ela vai vomitar no seu quarto, perto do seu quarto, na parte da casa que você mais gosta de ficar, no seu lugar de sentar-se à mesa ou no sofá. O melhor disso é que aquela tia gorda com algo no rosto que parece ser uma verruga, mas você não tem exatamente certeza do que seja, vai olhar em sua bela face, sorrir e falar “ele não é uma gracinha?”. Ta bom, ta tudo bem, até ai é possível relevar. Seguido a ordem cronológica desse belo dia, vem o almoço e suas peculiaridades. Começando por lugares na mesa. Ah isso é uma maravilha, nunca, e reforço incansavelmente a palavra “nunca”, terá lugar para todo mundo sentar. Tudo bem, até ai é aceitável, não fosse pelo fato da sua prima “no life” sentar do seu lado no sofá previamente vomitado pelo seu primo com refluxo e começar a falar das aulas práticas do curso de medicina na faculdade federal que ela estuda. É, ta ótimo, você não passou na federal e seu curso não salva a vida das pessoas, mas pelo menos nos últimos 20 anos você fez sexo. Ela não. Continuando a trajetória, vem a fantástica hora da sobremesa. Via de regra é um bolo com todas as frutas que as pessoas não tem coragem de comer sem muito leite condensado e merengue em volta (e mesmo assim fica péssimo). Legal, você deve estar pensando “ah, que fácil é só não comer”. É claro que é só não comer, mas esqueceu que hoje é FE-RI-A-DO? Quem trouxe o bolo? A sua tia avó que fugiu da segunda guerra mundial, trabalhou nas lavouras de cana de açúcar, é filha/neta/bisneta de escravos ou já morou em uma aldeia indígena. Não tem como negar, você vai comer o bolo e vai fingir que esta gostando ao empurra-lo com muita coca-cola escutando seu tio médico (o pai da prima virgem) dizer que isso faz mal para os ossos. Perfeito, você resolve pegar uma cerveja e é OBVIO que ela esta quente, porque seu pai já bebeu mais ou menos umas 18 latinhas e o que sobrou foi uma Kaiser edição comemorativa da copa de 2002 que estava encostada em um canto da geladeira, do lado de uma lata de sardinhas. Melhor que nada, você bebe, e na esperança de encontrar cinco minutos de sossego vai para o quarto escrever um texto ou acessar um site pornô (o que no fim da no mesmo). Adivinha quem vai te perseguir para conversar? Sua irmã/irmão pré-adolescente que esta descobrindo só agora que feriado é um saco (principalmente quando cai no domingo). Este pequeno ser humano esta mal-humorado, esta com raiva do primo de nome esquisito que gosta de golfar nas coisas alheias, e você é a única válvula de escape para essa criatura juvenil. Ele(a) vai implicar com suas roupas, com seu cabelo, com as musicas que você escuta e vai falar que você é um fracassado. Levantando a hipótese de esse irmão ser mais velho, acontecera exatamente a mesma coisa com a diferença dessa malhação ser feita com um estilo mais rebuscado.
A tarde vem chegando e os parentes finalmente resolvem ir embora. Sossego? Eu acho que não pequeno gafanhoto. Ainda tem varias atividades a serem feitas dentro de casa, ainda tem louça para lavar, ainda tem o resto do churrasco para organizar na geladeira, ainda tem os animais de estimação para alimentar. Lembra quantas pessoas são necessárias para fazer uma atividade relativamente simples em um feriado? Todos os presentes no ambiente. É uma longa tarde, coroada com a dança dos famosos na televisão e/ou amigos na internet contando o quão legal foi o feriado deles (mentindo provavelmente, mas você não sabe disso e fica furioso). A noite chega, seu pai esta praticamente em coma alcoólico, você encontra mais umas duas cervejas quentes perto dos legumes e vai achando que finalmente chegou a paz. É a magnífica hora de lembrar que tem milhões de coisas que deveriam ter sido feitas ou na semana anterior ou durante os “dias úteis” do final de semana. Aquela sensação de angustia e pânico, quase patológica toma conta do teu ser, a programação na TV é a melhor possível, o Fantástico vem ai! A internet encontra-se em um marasmo absurdo e tudo que te resta a fazer é respirar fundo, bater no peito e dizer: Ainda bem, amanhã é SEGUNDA-FEIRA.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Petit


Veja bem, é tanta vontade que mal cabe em mim, tal felicidade de sabor tão ruim, pois espera ansiosa sua hora chegar. Pensa bem, ascende em ti o que nem te falei, ri agora que meu peito fora mais além, do que qualquer palavra pudesse chegar. Ai de ti, se ao ler essas linhas não pense sequer, em falar no meu ouvido palavra qualquer, seja esta de bem ou até mal-me-quer. Escuta agora, que minha alma vadia já não se apavora, de talvez dessa vez ser deixada afora, espera apenas inerte sua voz ressoar. Veja bem meu bem, se te digo demais não exagero no entanto, se pudesse talvez entender meu encanto, verias razão pra tudo considerar. Porém menina, não se assuste com o peso das frases que almejo que leias a sorrir, pois nelas traduzo hipérbole confusa que minha cabeça insiste em florir. Se te quero menina, pode ser de passagem, sei que tua mocidade não te deixaria criar, sentimento que se afirme nessa grande viagem, floreios selvagens, paixão singular. Da contradição que se cria, nessas mesmas vitrinas do ardor que ilumina meus dias, te afirmo que nada é mentira, querer-te-ia em plena luz do dia, sem vergonha sem medo ou objeção qualquer. Ah menina! Se me preocupo com a intensidade de nosso utópico desfecho, é porque creio que o tempo não é apetrecho que defina o que bom,ou diga o que é ruim. Se tivesse pra mim um segundo de ti, poderia talvez, expressar de uma vez, essa tamanha vontade que mal cabe em mim.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Entre nós


Ao que confunde atuação e ato
Ao que vive da beleza do fato
Ao belo de fora da estética
Ao silêncio que completa a dialética

Pelo clamor da idéia esquecida
Pelo amor à sagacidade atrevida
Pela paixão, essência de ópio
Pelo beijo inocente, inócuo

Valha-me tempo vivido
Dos fatos, dos atos, dos risos
Deixa-me entender a partida

Partes não, fico tão triste
Faz-me esquecer dos alívios
Do beijo, da fala, da vida.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Crush.


É fogo fátuo, ou talvez nem seja. É só uma troca de olhares, nada mais. Incrível como ele sempre enxerga as coisas da maneira mais pessimista possível. Por que cargas d’água não acreditava em si mesmo? Saber de fato não sabia, apenas desconfiava.
Era incrível buscar malicia na inocência e ao acaso encontrar o inverso. Sem pretensões poéticas, mas é o que da vida ao seu verso. O sorriso é gostoso, o hálito é fresco, tem cheiro de mocidade. Já o dele exala sensações que seus dentes não conseguem reter e seu pulmão já não mais absorve. Que incrível contraste. Que magnífica antítese. Dizem por ai que as reações químicas que ocorrem em nosso corpo são causadas por fatores externos, entre eles a atração. Disso ele não sabia. Só sabia do rubor, da imposição da virilidade através de gestos singelos. Homem comum. Temia que só através de nova paixão esquecesse os cacos das antigas que permaneciam em seu interior. Não seria mais um vidro a quebrar-se? Não estaria exagerando ao explicar química com olhares? Talvez não. Via que aos cegos que não crêem só restavam partículas dos cacos, tal qual ele, que em si desacreditava. Tinha plena consciência de que estava errado, mas mesmo assim era imutável em opinião, duro, turrão. Só lhe restava lembrar que inocência é feita de porcelana. Tão fácil de quebrar.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Dualidade.


“Era um dia chuvoso, cinza e agradável. A rua central do bairro periférico estava calma, como sempre. Todo domingo de manhãzinha eu fazia a mesma coisa: Olhar Mariana sentada na porta de casa. Só olhar e nada mais. Passava mais de uma hora admirando o par de olhos daquela moça, eram mágicos, meigos, perdidos e enxergavam longe demais pra ocupar um espaço tão pequeno. Tudo é sempre tão igual. Sentada no degrau de pedra que levava até a sala-cozinha da entrada, buscava no horizonte esperança que não vem, amor que não tem. Exceto o meu, de longe, duas casas acima, do outro lado da rua imaginando quietinho a sensação de pegá-la pela mão e apresentar a esperança que tanto buscava pelo olhar. Só me falta primeiro encontrar, e perder o medo, de revelar a ela, isso que julgo ser meu segredo.”

“Ele sempre me olha assim, de longe, calado.
Será que não vê que penso só no que a realidade trás pra mim?
Se não quer estar ao meu lado
Porque me joga olhares e gestos
Tudo o que mais detesto
É essa espera sem fim
Por mais que queira esperar-te
Não vê que a vida passa?
E se não partir da tua parte
O que me resta a fazer enfim?
Atirar-me em teus braços
Sem motivo aparente?
Se teu coração me parece dormente
Mesmo que eu saiba, contente.
Que é meu nome que a batida diz.
Não quero de ti a esperança
Que busco talvez tão distante
Só quero matar essa ânsia
De viver, ao invés de existir.”