sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Dualidade.


“Era um dia chuvoso, cinza e agradável. A rua central do bairro periférico estava calma, como sempre. Todo domingo de manhãzinha eu fazia a mesma coisa: Olhar Mariana sentada na porta de casa. Só olhar e nada mais. Passava mais de uma hora admirando o par de olhos daquela moça, eram mágicos, meigos, perdidos e enxergavam longe demais pra ocupar um espaço tão pequeno. Tudo é sempre tão igual. Sentada no degrau de pedra que levava até a sala-cozinha da entrada, buscava no horizonte esperança que não vem, amor que não tem. Exceto o meu, de longe, duas casas acima, do outro lado da rua imaginando quietinho a sensação de pegá-la pela mão e apresentar a esperança que tanto buscava pelo olhar. Só me falta primeiro encontrar, e perder o medo, de revelar a ela, isso que julgo ser meu segredo.”

“Ele sempre me olha assim, de longe, calado.
Será que não vê que penso só no que a realidade trás pra mim?
Se não quer estar ao meu lado
Porque me joga olhares e gestos
Tudo o que mais detesto
É essa espera sem fim
Por mais que queira esperar-te
Não vê que a vida passa?
E se não partir da tua parte
O que me resta a fazer enfim?
Atirar-me em teus braços
Sem motivo aparente?
Se teu coração me parece dormente
Mesmo que eu saiba, contente.
Que é meu nome que a batida diz.
Não quero de ti a esperança
Que busco talvez tão distante
Só quero matar essa ânsia
De viver, ao invés de existir.”

Um comentário:

  1. Será que ele me lê assim? Será que sou tão óbvia e transparente?
    Minha alma pousou na dele e as duas conversaram por horas - a distância -, deve ser por isso (e só por isso) que ele soube me ler assim. É, é. Deve ser...

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